Alguns aspectos técnicos:
#1 - Definição
Um ataque de pânico "é um período discreto no qual se inicia de modo súbito uma intensa apreensão, medo ou terror, frequentemente associados com sensações de catástrofe iminente."
DSM-IV, Manual de Diagnóstico e Estatísticas das Perturbações Mentais
O que, para mim, se traduz em: posso estar a comprar legumes, quando, de repente, surge uma sensação indistinta de desconforto, de que algo não está bem... o coração dispara, a respiração acelera (ou falta)... tonturas, sensação de desmaio, dor no peito, o sistema digestivo em revolução e... o terror, a certeza de que algo terrível vai acontecer... cansaço e medo persistentes.
#2 - Sintomas do Ataque de Pânico
Para que seja considerado um ataque de pânico, têm de estar presentes 4 (ou mais) destes sintomas.
- Palpitações, batimentos cardíacos ou ritmo cardíaco acelerado;
- Suores;
- Estremecimentos ou tremores;
- Dificuldade em respirar;
- Sensação de sufoco;
- Desconforto ou dor no peito;
- Náuseas ou mal-estar abdominal;
- Sensação de tontura, de desequilíbrio, de cabeça oca ou de desmaio;
- Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se desligado de si próprio);
- Medo de perder o controlo ou de enlouqucer;
- Medo de morrer;
- Parestesias (entorpecimento ou formigueiros);
- Sensação de frio ou de calor.
DSM-IV, Manual de Diagnóstico e Estatísticas das Perturbações Mentais
#3 - Diferença entre Ataques de Pânico e Perturbação de Pânico
Para que um indivíduo seja diagnosticado com Perturbação de Pânico é necessário que tenha vários (e inesperados) ataques de pânico.
#4 - Ataques de Pânico e Ansiedade
Os Ataques de Pânico podem ocorrer no âmbito de outras perturbações, que não as perturbações de ansiedade, mas, de uma forma geral, ocorrem neste contexto.
Estes são alguns dos aspectos técnicos, espelham a realidade, mas não as suas implicações.
No meu caso, e tenho a convicção de que isto é verdade para a maioria das pessoas que sofre desta perturbação, o problema não passa tanto pelos ataques de pânico (afinal, são episódios que duram cerca de 30 minutos e atingem o seu pico passados cerca de 10 minutos), mas pelas suas consequências na vida prática, que aprendi, com trabalho de casa, a atenuar.
Alguma da minha história...
Costuma dizer-se que nunca se esquece o primeiro amor. Bem, também não se esquece o primeiro ataque de pânico. Porquê? São ambos inesquecíveis pelo mesmo motivo: a sua intensidade!
Recordo-me perfeitamente do meu primeiro ataque de pânico: estava no carro do meu namorado (actual marido), os meus pais tinham ido para o Brasil, e comecei a sentir-me mal. Tonturas, mãos suadas, o coração disparado, falta de ar... a certeza de que alguma coisa muito grave se estava a passar e ... passou (sem que eu tivesse percebido o que tinha acontecido). Pouco tempo depois, tive o primeiro confronto com a morte (da qual tinha sido sempre resguardada), e os ataques de pânico foram acontecendo, espaçados, pouco consistentes.
Recordo-me perfeitamente do meu primeiro ataque de pânico: estava no carro do meu namorado (actual marido), os meus pais tinham ido para o Brasil, e comecei a sentir-me mal. Tonturas, mãos suadas, o coração disparado, falta de ar... a certeza de que alguma coisa muito grave se estava a passar e ... passou (sem que eu tivesse percebido o que tinha acontecido). Pouco tempo depois, tive o primeiro confronto com a morte (da qual tinha sido sempre resguardada), e os ataques de pânico foram acontecendo, espaçados, pouco consistentes.
Até que, depois da Francisca ter entrado na escola, tornaram-se constantes, persistentes e, com esta persistência, veio o sofrimento e, com o sofrimento, o evitamento. O medo paralisou-me! Comecei por evitar determinadas situações: estar sozinha fora de casa, lugares barulhentos e lotados, percursos longos de carro, viagens de avião, elevadores. Tornei-me dependente dos outros, especialmente do meu marido. Com ele, sentia-me segura e capaz de enfrentar as situações que sabia indutoras de pânico, como as acima descritas.
Também veio a culpa e a vergonha. Inicialmente, estava plenamente convencida de que existia algo fisicamente errado comigo. Mas, depois de algumas idas às urgências (onde nunca encontraram nada de errado), consultas com diferentes médicos e especialidades, não foi preciso que me diagnosticassem. Afinal, esta é a minha área. Depois, veio a vergonha, a sensação de que estava em falta, comigo própria e com os outros. Não ajudou que os enfermeiros e médicos, quando recolhiam a minha história clínica, fizessem caras e bocas ao ouvirem que estava a estudar psicologia clínica (o facto de serem enfermeiros ou médicos também não os impede de adoecer, mas, então, não tinha a clareza de raciocínio necessária para encarar as coisas desta forma).
Com todas estas implicações na minha vida prática, resolvi procurar a ajuda que sabia disponível. Na verdade, já tinha procurado ajuda muito antes dos ataques de pânico dominarem, quase por completo, a minha vida.
A terapia ajudou muito (continuo a defender que todos nós beneficiamos com ela). Sei identificar o que ficou mal resolvido lá atrás, perceber o que está na origem deles, controlar-me (já estou a ver o meu terapeuta parar-me à simples menção desta palavra, corrigindo-me), identificá-los melhor e impedir que a "roda ande" e todo o processo se desenrole. Estou a trabalhar para que os pensamentos que lhe dão origem sejam cada vez menos presentes (já foram dominantes) e poderosos.
Mas... (e este mas dá cabo de mim!!), sempre que penso que já me livrei deles, que não é possível que eles voltem a surgir, a ansiedade instala-se, o medo regressa e, quando o trabalho de casa não é feito, o pânico volta!
Além da terapia (a cognitivo-comportamental é a mais indicada), existe medicação disponível (beta-bloqueantes em doses moderadas/ ansiolíticos, e anti-depressivos) e, muitas vezes, o mais indicado é a utilização simultânea destas duas vias de tratamento.
Quanto aos fármacos: embora existam alternativas, por vezes, para que elas nos sejam viáveis, para que possamos usufruir em pleno das suas potencialidades, precisamos parar e respirar, dar ao nosso corpo oportunidade para restaurar alguma espécie de equilíbrio e, neste sentido, eles podem ser excelentes aliados do processo terapêutico. Por vezes, são mesmo indispensáveis e sê-lo-ão por longos períodos de tempo.
As boas notícias: há tratamento disponível. As más notícias: quando não é tratada, pode tornar-se crónica. Porquê? Porque o corpo aprende, e esta é uma resposta do corpo que pode tornar-se "automática". Falo em resposta do corpo porque, não tenham dúvidas, de uma forma geral, esta foi a forma que o vosso corpo encontrou para gritar, chamar a vossa atenção. Por isso, parem, pensem, façam o vosso trabalho de casa para que o corpo encontre outras formas de responder à ansiedade.
Com o tempo, há coisas que descobri ajudarem e que deixo como dicas:
* Respire (fundo e pausadamente).
* Evite o evitamento - o mais confortável pode ser evitar certas situações, mas os fantasmas só são enfraquecidos e vencidos quando são enfrentados.
* Mantenha um diário.
* Faça um quadro, analisando os ataques de pânico, com as seguintes colunas: o que estava a fazer/ o que sentiu/ o que pensou/ o que podia ter pensado.
* Liberte-se da vergonha - a perturbação de pânico é mais comum do que pensa, e não é uma falha de carácter ou de força vontade.
* Procure ajuda especializada.
* Respire (fundo e pausadamente).
* Evite o evitamento - o mais confortável pode ser evitar certas situações, mas os fantasmas só são enfraquecidos e vencidos quando são enfrentados.
* Mantenha um diário.
* Faça um quadro, analisando os ataques de pânico, com as seguintes colunas: o que estava a fazer/ o que sentiu/ o que pensou/ o que podia ter pensado.
* Liberte-se da vergonha - a perturbação de pânico é mais comum do que pensa, e não é uma falha de carácter ou de força vontade.
* Procure ajuda especializada.
Algumas curiosidades:
- A perturbação de pânico é mais frequente entre as mulheres.
- Há uma contribuição genética para o desenvolvimento desta perturbação (o mais provável é que existam casos entre os vossos familiares directos, de primeiro grau).
- Alguns nomes de famosos que tiveram ataques de pânico/perturbações de ansiedade: Ana Garcia Martins (A Pipoca mais Doce); Johnny Depp; Kate Moss; Calista Flockhart; Emma Stone; Kim Bassinger; Scarlett Johansson; Nicole Kidman; LeAnn Rimes; George Michael; Princesa Diana; Sigmund Freud.
- A perturbação de pânico é mais frequente entre as mulheres.
- Há uma contribuição genética para o desenvolvimento desta perturbação (o mais provável é que existam casos entre os vossos familiares directos, de primeiro grau).
- Alguns nomes de famosos que tiveram ataques de pânico/perturbações de ansiedade: Ana Garcia Martins (A Pipoca mais Doce); Johnny Depp; Kate Moss; Calista Flockhart; Emma Stone; Kim Bassinger; Scarlett Johansson; Nicole Kidman; LeAnn Rimes; George Michael; Princesa Diana; Sigmund Freud.
Eu antes era extremamente ansiosa... quando tinha um problema era certo que em algum momento tinha um ataque. Depois de ter o meu filho tudo passou pelo menos até agora.
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