Há cerca de 3 semanas implementámos um sistema de recompensas cá em casa. O desenho do mesmo era simples: os comportamentos desejados, que estavam particularmente difíceis de arrancar da Francisca, mereciam um autocolante (uma estrela). No final da semana, muitos autocolantes davam direito a um autocolante de Super-estrela que, por sua vez, resultava num presente. Implementei este sistema de recompensas, confesso, sem grande raciocínio por detrás do mesmo (encontrei-o no El Corte Inglés numa das minhas incursões pelos livros infantis e recordei-me da fixação dela por autocolantes) e motivada pelo cansaço (os finais de dia andavam a ser especialmente cansativos). Entretanto, abandonei-o e passo a explicar porquê...
A tendência que ela expressou em alargar o sistema de recompensas a todos os seus comportamentos e, consequentemente, às suas relações, fez-me parar e pensar na lógica e valor do mesmo.
Percebi que quero que a Francisca deseje ir para o banho porque trata-se de um acto de higiene importante para a sua saúde e bem-estar, queira comer sozinha porque tem quase 4 anos, já fez esta aprendizagem e não faz sentido estar a voltar atrás no tempo, mesmo que lhe seja apetecível essa atenção dos pais na hora das refeições, e que passe a ir para a cama mais cedo porque compreendeu que dormir um X número de horas afecta a sua disposição, assim como a sua capacidade de aprendizagem, entre outras razões. Isto é, quero que ela perceba os motivos pelo quais estes comportamentos são desejáveis. Não quero que os adquira porque vai ganhar autocolantes/presentes.
A Francisca foi filha única (e neta, do lado paterno) durante 3 anos e está habituada a receber os presentes que quer, quando quer, pelo que, neste departamento, há trabalho a fazer e não é implementando um sistema de recompensas que ele será feito.
Embora os sistemas de recompensa possam ser bastante úteis para facilitar, ou mesmo abolir, um determinado comportamento, não devem ser utilizados, na minha opinião, de forma contínua. Isto é, podem ser úteis para determinadas situações, como o treino do bacio, mas não devem ser implementados para todos os comportamentos desejados e por um período de tempo indeterminado porque conduzem à dependência (a criança passa a depender de uma determinada validação - externa -, o que pode resultar em problemas de auto-estima).
No entanto, a experiência não foi inteiramente negativa. Estive mais atenta aos comportamentos desejados e à recompensa, material, mas também verbal dos mesmos, o que me fez perceber que os comportamentos desejados surgem com maior frequência do que os indesejados, e a importância do seu reforço, ainda que verbal. Tenho de reconhecer que as semanas em que o sistema de recompensas esteve implementado foram mais tranquilas do que o habitual (quando queria que um determinado comportamento fosse iniciado, ou cessado, só precisava referir as estrelas e o presente semanal). Contudo, embora fosse tentador manter "a paz", as decisões que tomo em relação à educação da Francisca tem de ser ponderadas porque, afinal, estou mais interessada no resultado final do que nos entretantos.
Sem comentários:
Enviar um comentário