Durante três anos, a Francisca foi filha e neta única (do lado paterno). Depois, e no mesmo ano, nasceu o primo Gonçalo e os gémeos. Passou a ter de dividir atenções e brinquedos, mimos e afectos. Na rua, também deixou de ser o centro das atenções e, quando se dirigiam a ela (por vezes, ignoravam a sua presença), as perguntas eram sobre os irmãos ("Como é que se chamam os teus irmãos?", "Eles portam-se bem?", "Ajudas o pai e a mãe a tomar conta dos manos?"...). Percebeu mudanças, e manifestou-as, já durante a gravidez. Algumas, pequenas, regressões, na maioria, ultrapassadas. Mas, agora, quase um ano depois, algumas persistem. Continua a preferir que sejam os adultos a dar-lhe comida e, como deixou de ser opção, fica muito tempo na mesa, num duelo de vontades, do qual não parece sair vencedor. Não tem sido um desafio fácil, devolver-lhe e incutir-lhe algumas autonomias, como na hora de vestir. Não tem sido um percurso fácil, e o equilíbrio, sinto-o, ainda está por encontrar. Temos dias de princesa, dias em que somos só nós as duas, como antes, fazem-lhe falta a ela e a mim, porque também sinto saudades desse tempo... Adoro a nossa nova realidade, mas é muito distante da anterior e se para mim, que tenho outras ferramentas, tem sido difícil adaptar-me a ela, tenho de reconhecer e compreender as dificuldades dela. Por vezes, pede colo ao mesmo tempo que os irmãos, finge que não sabe falar e responde como se fosse um bebé, diz, muitas vezes, que não consegue, que não é capaz e precisa de ajuda quando consegue e é capaz. Por vezes, não é fácil de gerir, frustra, mas... tenho de respirar fundo e esforço-me, aliás, forço-me a pensar as suas razões. Queria poder tornar o percurso mais fácil, para ambas, para todos, mas, por muito acidentado que, por vezes, possa parecer, tem sido tão feliz, tão pleno. Não mudava nada. Deixou de ser o centro das atenções, mas ganhou dois irmãos, que se iluminam quando ela entra na sala, dois companheiros de brincadeiras, e tem sido maravilhoso assistir a construção destes laços, que sei indestrutíveis. Muita paciência, mimo e poder de encaixe, meu e dela, para o mundo que ainda não percebeu que ela é o centro do mundo dos irmãos e não vice-versa. Ela adora-os, prefere sair de casa na sua companhia, não acha piada nenhuma a ofertas inusitadas ("São tão giros! Vou levá-los comigo, posso?), e acordou desesperada e inconsolável de um pesadelo em que o Capitão Gancho tinha levado um deles para o seu barco (só serenou quando viu os dois, lado a lado). Mas, eles procuram-na mais do que ela a eles. De vez em quando, as brincadeiras encontram-se, com gargalhadas que preenchem a casa e o coração dos pais, e nós serenamos, sabemos que, apesar de tudo, está a correr bem. Somos felizes, muito felizes, mas ninguém disse que ia ser fácil... Ser irmã de gémeos não é fácil!
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Cá em casa também temos uma princesa q de repente ganhou um pequeno príncipe. Ela tinha cerca de 3 anos e meio quando ele nasceu e ao inicio ela não mostrou grandes ciumes. Vejo mais isso agora quase passado 3 anos. Como ele agora quer ser o maior da festa e ela também tem dias complicados, mas tudo se resolve.
ResponderEliminarVai existir sempre rivalidade entre irmãos, Sónia. Eu tive, e tenho, com os meus. Só quero garantir que ela se sente tão especial/amada aos olhos dos pais como os irmãos.
EliminarBeijinhos
Adorei o texto :)
ResponderEliminarQue bom! Obrigada pelo feedback.
EliminarBeijinhos
Não deve ser fácil, não! Continuação de felicidade, sempre em crescendo, é o que vos desejo! Beijinhos
ResponderEliminarObrigada e igualmente.
EliminarBeijinhos
Obrigada. beijinhos
Eliminar"Deixou de ser o centro das atenções, mas ganhou dois irmãos, que se iluminam quando ela entra na sala, dois companheiros de brincadeiras[...]"
ResponderEliminarEu não sou pai, e "não tenho voto na matéria". Tenho um irmão da minha idade, gémeo, e nunca tive numa situação como a dela, mas já vi, ouvi e conheci, crianças que estiveram. Dizer que "Deixou de ser o centro das atenções, mas ganhou dois irmãos" é quase como um apaziguar de um problema enorme para ela. Porque são dois. Se fosse só um, ligavam tanto a ela como a ele, mas são dois, são gémeos, são bebés e as pessoas adoram ver bebés. De certa forma, ela acredita que perdeu o encanto e a "magia" que eles parecem dar.
Aquilo que ela está a passar, tal como referiste, não é fácil e vai requerer muito trabalho, esforço e compreensão da parte dos pais. Não tanto dela, porque ela ainda é criança e "exige" ser amada tanto como os irmãos e que os outros adultos gostem dela.
Julgo que uma solução seria a de avisar os familiares a não dar tanta ou só atenção aos bebés, para se interessarem também pela vida da irmã mais velha. E digo vida, não "momento-em-que-está-com-os-irmãos". A escola, a creche, até quantos sabe contar, quem lhe ofereceu os sapatitos ou o vestido.
A melhor solução é desviar a atenção dos irmãos. Básico.
Mas... quem sou eu para sugerir o que quer que seja não é?
Já tens um curso de psicologia, não devo estar a dizer nada de novo. Para além de que já deves ter lido os livros todos. Teria sido melhor se estivesse estado calado, não?
Espero que ela, um dia, se dê tão bom os dois irmãos, como eu dou com o meu. Fazer parte da vida de ambos, como serão os dois um do outro.
Olá, Paulo!
EliminarClaro que não. Ainda bem que "falou". É isso mesmo - Dizer que "Deixou de ser o centro das atenções, mas ganhou dois irmãos" é quase como um apaziguar de um problema enorme para ela." Ainda bem que chamou a atenção para esta minha parte do discurso. Sei que, conforme eles forem crescendo, o problema vai atenuar-se, até porque passam a ser, efectivamente, companheiros de brincadeiras e não bebés que pouco sabem fazer e porque passam a chamar menos atenções.
O "problema" não passa tanto pelos familiares (continua a ser a princesa), mas pelos desconhecidos, que nos param na rua (e são muitos!). É natural. Gémeos (bebés) chamam a atenção (e, modéstia à parte, os meus são amorosos). Nunca vamos poder controlar a reacção dos outros, podemos é ir atenuando os seus efeitos, o melhor que sabemos e podemos. Estamos a tentar...
Quando à parte de ser psicóloga e ter lido os livros todos: sou psicóloga, mas não sou psicóloga com os meus filhos, faço questão disso e ainda não li os livros todos, aliás, tenho de ler muitos mais e até reler alguns porque o tempo passa.
Obrigada pela chamada de atenção e pelo comentário.