... Pois ando, mas não está a dar para ser doutra forma. Eles estão a crescer e começam a ficar mais exigentes. Entre refeições, fraldas, dormidas, banhos, e birras tem-me sido difícil encontrar tempo para passar por aqui, mas faz-me falta. Este é o meu espaço (por aqui estou só e, ao mesmo tempo, acompanhada), em que paro para pensar, desabafar e agradecer.
O que está diferente?
A F. está mais segura no seu papel de primogénita e irmã mais velha, protectora e amorosa ("Eu sou a mana mais velha. Eu ajudo muito, não é, mamã?"). Não permite que os pais demorem a responder ao choro dos irmãos ("Mãe/Pai, olha os miúdos!"), "refilem" porque eles estão um pouco mais exigentes do que o habitual ("António, tu hoje estás um bocadinho chato." "Não, mãe, o mano não é chato. É fofinho. Não zanga com ele, está bem? Ele fica triste e depois chora."), professa, com orgulho e enlevada, o amor que sente por eles ("Eu gosto tanto dos meus maninhos. Eles são tão fofinhos."), e tem inúmeras demonstrações de afecto (pede para dar colo, beijinhos e festinhas).
O A. e o P. estão mais atentos ao mundo que os rodeia, focam o olhar no nosso, ensaiam o primeiro sorriso, e reclamam por tudo aquilo a que tem direito (colo incluído) com mais convicção. Ah! E formaram o seu próprio sindicato, uma verdadeira frente unida. Se um chora e não é prontamente atendido, o outro também reclama a falta de resposta ao pedido do irmão. Neste momento, tenho dois sindicalistas, muito convictos e cientes, a reclamar pelos seus direitos, que, de uma forma geral, passam pelo direito à paparoca, fralda limpa, chucha e ao colo (sim! esta mãe de três, apesar de ter prometido que, desta volta, seria diferente, não resistiu, habituou-os ao colo e, agora, está basicamente tramada). Cheira-me que vou sair destes primeiros meses com um curso superior em malabarismo, tais são as posições estrambólicas a que me obrigo a estar para resposta a dois bebés e apenas um colo.
Entretanto, já desenvolvi algum calo ao choro deles, mas pouco. Não consigo (nem quero!) deixá-los a chorar. Não percebo a corrente que defende o poder e a necessidade de habituar as crianças a acalmarem-se sozinhas, deixando-as a chorar.* Temos de aumentar, gradualmente, e de acordo com a idade, o tempo de resposta aos estímulos que eles emitem? Sim. Mas, devemos, especialmente nestas idades, deixar de dar-lhes resposta, deixando-os a chorar? Não. Como pais/educadores, podemos sempre sempre seguir o caminho que nos parecer mais correcto e adequado, mas não acredito em deixar uma criança de colo a chorar (em certas situações, como a birra, ignorar o comportamento pode ser o mais adequado, mas estamos a falar doutras idades e, portanto, doutros recursos para gerir a frustração e ansiedade que esta ausência de resposta por parte dos pais acarreta). A base de qualquer relação saudável é a confiança e a confiança deles em nós passa por encontrarem resposta, pronta e adequada, às suas necessidades, que não são apenas básicas, mas também emocionais. Desta vez, sou mais funcional do que desejaria (com gémeos não há tempo ou recursos para ser doutra forma), mas não abdico da parte emocional (aquilo que maioria das pessoas intitula de mimo). Vão-me avisando que vou pagar a factura, que eles vão ficar mal-habituados, mas não conheço nenhuma criança/adolescente/adulto que tenha ido parar ao psicólogo/psiquiatra por excesso de ternura, já por falta dela...
* Lamento informar, mas elas não se acalmam, desistem, o que é inteiramente diferente.