terça-feira, 21 de maio de 2013

A Questão da Amamentação

O leite está a começar a secar. Passei pelo mesmo com a Francisca e foi pelo mesmo motivo. Ela não pegava no peito e, como tal, a produção de leite foi pouco estimulada. Desta vez, porque sou mais experiente, fiz uso da bomba, mas não com a frequência necessária para colmatar a falta de estimulação. Na altura, consegui dar a volta à situação e ela foi amamentada de forma exclusiva até aos quatro meses e combinada até aos seis. Mas, passei o primeiro mês e meio ansiosa, culpada e exausta (entre esterilizações, bombadas, mamadas e mudas praticamente não descansava). A principal pressão veio, claro, de fora (espantosamente, ou não, de outras mulheres). Somos muito rápidas a passar julgamentos, a cobrar atitudes, especialmente no que diz respeito aos filhos das outras e a questão da amamentação parece trazer à tona, quase que munidas com forquilhas, algumas fundamentalistas, prontas a condenar outras mulheres que, egoístas, e sabendo que o leite é o melhor alimento para os seus filhos, optam por não amamentar. 

Mais uma vez, por opção própria e porque estou bem consciente dos seus benefícios (não só para o bebé, mas também para mim), mas, acima de tudo, porque me apetece, vou voltar a tentar reverter a tendência, fazer uso da bomba, da água e do Promil, mas, se o leite vier a secar, secou. Não vou voltar a recorrer a enfermeiras, descabelar-me, achar-me a pior mãe do mundo porque não pude dar aos meus filhos o que sei de cor ser o alimento mais apropriado e completo que há. 

De resto, esta questão da amamentação é muito debatida e, se há claros argumentos a favor (facilita uma involução uterina mais precoce e a perda de peso; é prático e económico; melhora o desenvolvimento cognitivo, a formação da boca e o alinhamento dos dentes do bebé; mune o bebé com certas defesas e previne o aparecimento futuro de algumas doenças, como a diabetes e a obesidade; entre outros), não vamos fingir, como é costume entre as mulheres, que não há argumentos contra (os primeiros tempos são dolorosos e desconfortáveis - as primeiras pegas doem, os mamilos gretam, criam fissuras, a subida do leite é um tormento e, depois, passa a ser desconfortável, se nos distraímos com as horas, ficamos com o peito do tamanho do monte Kilimanjaro, ou acordamos inundadas...). Se há mezinhas e soluções para todos estes desconfortos? Há e eu conheço a maioria, mas requerem tempo e disponibilidade numa altura em que temos pouco de ambas. Mais, há a questão estética. Não me venham com as tretas do costume que, depois da amamentação, as maminhas voltam ao mesmo, que a amamentação não interfere com o tamanho e o volume dos seios. Até pode ser que existam algumas felizardas (eu não conheço nenhuma) a quem isso aconteça, mas, para a maioria de nós, não ficam tão más como imediatamente após o acto de amamentar, mas não voltam a ser exactamente o que eram.

Há mulheres que submetem-se a horrores por causa do culto da amamentação. Passam por cima de mastites, caroços, bebés que não conseguem fazer a pega, bombadas, e sei lá mais o quê para cumprir com o ideal. Hoje acredito convictamente que mais vale um biberão dado com prazer e serenidade do que uma mama dada com sacrifício. 

Quanto ao argumento da vinculação. O vínculo afectivo estabelecido entre mãe e bebé passa muito mais pela dança, diálogo, que se estabelece entre ambos e muito menos pela presença ou não da mama do que se pretende vender. Há muitas mães que dão peito com uma fralda em cima da cara da criança (que tipo de diálogo pode haver aqui?). O contacto pele com pele pode ser conseguido com o biberão (basta que a mãe se dispa). Os olhos e as mãos podem encontrar-se com um biberão pelo meio. 

Portanto, vamos evitar posições extremadas, respeitar a posição e a opção de cada uma e evitar julgamentos. Afinal, antigamente, as mães que optavam por amamentar quando, claramente, o leite artificial era muito mais completo (teoria de então) é que eram irresponsáveis e egoístas. 



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12 comentários:

  1. Ora até que enfim que leio algo sobre amamentação com o qual me identifico. Também passei por isso... Bombas, culpas, mastites. Queria tudo como imaginei, mas a Inês não conseguia fazer a pega e as enfermeiras não foram grande ajuda nessa altura. Uma ainda me fez sentir pior...Hoje seria diferente! Um biberão sem complexos!!!!

    Tudo de bom

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    1. Obrigada, Paula. É muito bom sabermos que não estamos sós e que há alguém que nos compreende, sem julgamentos.

      Beijinhos

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  2. Olá Susana , gostei muito do que li! Com o meu segundo filho optei por nem sequer dar peito e sequei o leite de imediato, isto porque com o primeiro correu tão, mas tão mal que fiquei traumatizada. Chorava ele e eu!
    Quanto a ligação , ao vinculo estabelecido, acho que creio tanto o mais velho como com o mais novo vínculos fortes independentemente de nao terem mamado. Passa sobretudo pela atenção que lhes damos e o carinho que transmitimos!
    Gostei muito do teu blogue vou começar a seguir.
    Beijinhos.
    (My Baby Blue blog)

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    1. Não podia estar mais de acordo, Marta. Fico muito contente que tenha gostado deste espaço.
      Também vou ver o seu blog com atenção. Agora que tenho dois rapazes o universo deles passou a ter outro encanto ;).

      Beijinhos

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  3. Partilho da mesma opinião e sempre disse que se tivesse algum problema a amamentar cortava. Não tive subidas de leite complicadas (quase nem dei por elas) nem mastites mas sim falta de leite e o meu 1º filho era esfomeado (enorme também), chorava com fome e os nervos não ajudaram. Comecei com suplementos cedo, ele acalmou e aguentei assim uns meses. Eu estava mais tranquila e ele também e isso ajudou muito! Do 2º já sabia ao que ia e por isso correu um pouco melhor mas também não durou muito e nunca me senti mal por isso.

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    1. Felizmente, Maria, vamos aprendendo a viver as coisas com mais tranquilidade e descontracção. Caso contrário, acho que, por esta altura, já tinha enlouquecido ;).

      Beijinhos

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  4. O nosso grande problema é que vivemos rodeados de pessoas (técnicos de saúde) que deveriam ser entendidos na matéria e não o são e em vez de ajudarem fazem o contrário e conduzem-nos para o caminho do insucesso no que toca à amamentação! No meu caso, a amamentação correu mal com o 1º filho por insegurança minha e por ter dado demasiados ouvidos a quem não deveria ter dado! No 2º filho informei-me devidamente, contactei CAMS mesmo antes dele nascer, li muito e mentalizei-me que amamentar é o que todos os mamiferos fazem, é o que as mães (humanas ou não) sempre fizeram em tempos de guerra, de fome e de calamidades atmosféricas... se elas conseguiam eu tb havia de conseguir! No meu caso esta mentalização ajudou muito! A bebé nasceu e tudo correu sobre rodas, desde o 1º dia, poucos foram os desconfortos, não houve falsos desmames, rejeições de peito, fosse o que fosse... ainda hoje com 15 meses mama!
    No 1º filho ao biberon foi logo introduzido aos poucos dias de vida e assim continuou em aleitamento misto até aos 6 meses... se me sinto menos ligada a este filho?!?! Não! A cumplicidade com mama ou biberon foi exactamente a mesma, os momentos de "alimentação e cumplicidade" os mesmos... a 2ª apenas tem uma diferença (que a meu ver não é positiva), é mãe para tudo eu e só eu sou o seu porto de abrigo e dava tanto jeito que ela nesta idade já recorresse mais ao pai, tal como o mano fazia!
    A amamentação tem se ser confortável e prazeirosa para mãe e bebe, se assim não for não faz qualquer sentido!

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  5. Eu também dei de mamar no 1º e não foi nada fácil. A 1ª vez que me queixei ao pediatra, ele retorquiu com 1 claro: você é que sabe se quer criar um filho ou 1 bezerro... claro que a imagem do bezerro se dava pela sugestão que eu dera de passar ao biberon.
    Enfim. Chocada, mudei de pediatra.
    As piores reações vêm mesmo dos técnicos de saúde.. e das outras mães, sem duvida.
    Estou gravida outra vez e espero que corra bem.
    Honestamente, acho que li demais da ultima vez. Li, informei-me e procurei saber demais.
    Desta vez, vou seguir o instinto. E espero que com a experiência, corra melhor.
    Se não correr, não dramatizemos.
    E claro que tem razão.. as maminhas não ficam o que ficavam :)

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  6. Aplaudo 30 vezes!
    Com a minha filha meti na cabeça que ia amamentar em exclusivo até aos 6 meses e assim o fiz! Mas aprendi uma coisa, nada de fundamentalismos. Muito sinceramente, se tiver outro filho, não sei se vou tomar uma posição tão extrema. Ela pegou muito bem na mama e nunca tive problemas (para além de umas mini gretas nos primeiros dias), mas com a minha hipersensibilidade mamária custou sempre horrores... O vínculo entre mãe e filha, não foi devido à amamentação, acreditem, mas sim porque ele existe independentemente de tudo. Eu sou a primeira pessoa a apoiar quem não quer amamentar, afinal, se isso nos deixar mais confortáveis, só estamos a dar o melhor de nós! E não é isso que é suposto? Estarmos disponíveis para eles sentido-nos bem connosco mesmas?
    Bem, não sei o que vou fazer caso tenha um segundo filho, mas de certeza que não vou fazer filmes e lutar contra uma coisa que não me faz sentir bem. O instinto acima de tudo, e a decisão será minha e só minha.
    As maminhas iguais?? Mas quem é que acredita nisso? :-P

    Boa sorte e muito parabéns!

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  7. Não podia concordar mais! Comigo também não foi fácil. Tinha pouco leite e as primeiras semanas foram complicadas pois a B. tinha fome mas eu não sabia que era fome, mesmo! Comecei com a combinação do suplemento e assim foi até aos 4 meses. Ainda lhe dava de mamar mas a B. só mamava uns 5 minutinhos e depois bebia o biberon feliz e contente e eu adorava vê-la a beber. Verdade seja dita que foi uma experiência de que não gostei e só me enervava. A pressão é tanta que dá cabo da cabeça a uma pessoa. www.lovelab1.blogspot.com

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