sexta-feira, 17 de maio de 2013

A Reacção da Francisca

Aconselho as pessoas, especialmente os pais, a não criarem expectativas e construírem cenários porque, geralmente, a vida real não corresponde e porque considero que a chave para sermos felizes reside em vivermos no presente. 

Mas, também reconheço que existem certas situações em que criarmos expectativas, construirmos cenários, é inevitável (e até saudável). O primeiro encontro entre a Francisca e os irmãos foi idealizado, sonhado e, como quase sempre, inevitavelmente, a imagem construída não correspondeu à imagem real. Porquê?

Em primeiro lugar, porque a Francisca ficou doente e impedida de visitar os irmãos na primeira semana após o seu nascimento. Como tal, não só não pôde ir vê-los ao Hospital, como ainda teve de ficar mais dois dias em casa da avó (materna) depois dos pais e dos irmãos terem vindo para casa.

Acabou por não ser o cenário que idealizei, mas, se calhar, foi melhor assim. Conheceu-os no Dia da Mãe, em casa da avó. Viu os pais, que tinham ido buscar os irmãos (numa espécie de viagem encantada), entrar com os dois pela mão e uma prenda que estes haviam comprado especialmente para ela. Houve tempo para celebrar o nosso reencontro e só depois apresentar os novos membros da família. Houve tempo para sermos só dela, enquanto os outros elementos da família cuidavam dos gémeos. Mas, o verdadeiro empolgamento foi o presente que ela tinha escolhido para eles trazerem e com o qual já sonhava há algum tempo (também ela tinha construído um cenário e este passava muito mais pela bateria que tinha visto na "Loja dos Brinquedos" e muito menos pela interacção com os irmãos, que, afinal, por enquanto, têm alguma piada, mas não muita). 



Assim, o interesse inicial não foi grande. Estava muito ocupada a disputar o novo brinquedo com os primos e a atenção dos pais. Choramingou muito, quis colo, mas já contávamos com isso. 
Em casa, faz questão de ajudar nas tarefas inerentes a cuidar de um recém-nascido. É cuidadosa e carinhosa, mas têm andado mais sensível e carente. Pede mais mimo, acorda durante a noite a pedir os pais e chora quando algum deles tem de ausentar-se para atender ao bebé que, curiosamente, está sempre a chorar quando ela pede companhia. Também deixou de querer ir à escola (e por duas vezes a mãe fez-lhe a vontade). 
O espaço dela foi invadido, mas, por enquanto, ainda há alguma separação entre o que é o espaço e o tempo dela e o espaço e o tempo dos irmãos. Não propositadamente, mas porque, como todos os recém-nascidos, eles passam pouco tempo acordados e, enquanto dormem lá dentro, no quarto dos pais, os outros espaços são só dela e os pais também. 



A reacção dela está a ser o que imaginei, o que era expectável, mas, por vezes, custa. O nosso amor chega para todos, multiplica-se, cresce inexplicavelmente de dia para dia, mas continuamos a ter apenas um colo, duas mãos para segurar e, mesmo quando não nos apercebemos, há um foco. Eles sentem-se, clamam por atenção, pedem mais colo do que o habitual, querem ficar mais junto, mais tempo, querem que o tempo volte atrás, querem aquele colo, tão completo e exclusivo de quando eram bebés, e nós tentamos dar, tentamos fazer-lhes chegar essa segurança, essa confiança, essa certeza de que serão sempre os nossos bebés, que estão a crescer, o que nos deixa imensamente felizes e orgulhosos, mas que serão sempre nossos e nós deles, mas não é fácil partilhar, faz parte, mas não é fácil. 
E não será esta uma inevitável, e bela, lição de vida?...

Afinal, os irmãos vêm para tirar, mas também vêm para dar, e chegará o dia em que irão ser companheiros de brincadeiras, em que formarão uma nova unidade e serão os pais que ficarão de fora, a pedir mais colo e atenção...



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7 comentários:

  1. Como achas que ela irá olhar para eles quando tiverem a idade dela?
    Consegues "imaginar" esse futuro? :)

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    1. Ainda não, Paulo. Mas, é capaz de ser um exercício engraçado...

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  2. Sem dúvida Susana... o amor multiplica-se mas há situações que não devem ser nada fáceis de gerir...

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    1. Nada mesmo. Vamos fazendo o que podemos e o melhor que sabemos...

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  3. Adoro a explicação da minha pediatra: quando explicas ao teu filho que ele vai ter um irmão mas que não há problema nenhum porque tu tens amor para dar aos dois é mais ou menos a mesma coisa do que o teu marido anunciar que tem outra mulher para além de ti... ele tb não vai deixar de gostar de ti só porque tem outra, que tem amor para dar às 2! Faz-nos dar mais valor aos irmãos mais velhos ;)

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