Only Human

Ouvi este discurso depois da gravidez da Francisca e estou a ouvir agora com os gémeos:

- "Não te podes esquecer de ti como mulher. Tens de investir em ti, arranjar-te, cuidar-te."
- "Não te esqueças de namorar. Vocês continuam a ser um casal."

Hum, hum. Claro. Concordo em absoluto com a teoria, mas a prática... A verdade é que os primeiros tempos de um recém-nascido são muito exigentes e é praticamente impossível termos disponibilidade temporal, física e mental para investirmos em nós ou na nossa relação. O nosso foco é outro e é natural que assim seja. Quanto a mim, este tipo de discurso, seja ele interno ou externo, só coloca ainda mais pressão sobre as mulheres e os casais num tempo, por si só, stressante. Acho que uma perspectiva mais realista sobre os primeiros meses que sucedem a vinda de um bebé, especialmente quando é o primeiro, seria muito mais útil aos casais. O meu marido sabe, à partida, que nos primeiros meses, vou andar um pouco descabelada, com nódoas de leite e afins, que não vou passar muito tempo de volta do cabelo, e que é pouco provável ter tempo para conseguir maquilhar-me. Sabe, porque foi informado (e quando não se lembra é recordado), que a minha prioridade não é ele, ou a nossa relação, mas sim as crianças da casa. Agora, porque já passámos por isto com a Francisca, também sabe que o actual estado das coisas é passageiro, que eu vou voltar a gostar de ver-me ao espelho, que voltarei a despender tempo e dinheiro na minha aparência, e que também vamos voltar a ser um casal enamorado. É que, por muito que pareça adequado e inofensivo este discurso, tem uma ideia por detrás que acho verdadeiramente avassaladora para as mulheres e que é repetida com uma frequência assustadora: que temos de ser super mulheres e chegar para tudo e todos (and look good doing so).

Pois, lamento informar, mas...

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