terça-feira, 10 de abril de 2012

Quando sair do quarto dos pais?

O pediatra Mário Cordeiro postula que a criança deve sair do quarto dos pais, preferencialmente, antes dos seis meses, argumentando que "se o bebé não for habituado a dormir sozinho, será mais complicado vencer a ansiedade de separação". O pediatra Paulo Oom aconselha que a criança seja mudada para o seu próprio quarto quando começar "a dormir um período de sono mais ou menos longo durante a noite", o que "na maior parte dos casos (...) acontece cerca dos seis meses de vida." Ambos emparelham a necessidade de mudar a criança de quarto com a necessidade de criarmos crianças autónomas, capazes de  enfrentar os próprios medos, o que, em última análise, irá permitir-lhes experimentar o mundo de forma saudável e independente.
No entanto, esta mudança não é fácil para pais e filhos. Há a questão da comodidade (para as mães que continuam a amamentar, e cujas crianças continuam a acordar várias vezes durante a noite), dos medos (dos pais, que se sentem mais "ao volante" com a criança por perto; e das crianças, que, conforme se vão dando conta do mundo que as rodeia, também ficam mais cientes da sua própria fragilidade/dependência). 
Obviamente, num mundo ideal, todas as crianças teriam o seu próprio espaço (é preciso relembrar que há pais que não podem proporcionar um quarto próprio aos filhos), estariam a dormir cerca de oito/dez horas seguidas durante a noite entre os seis e os nove meses, e os pais saberiam contornar os seus próprios receios.
Mas, as crianças (e os seus pais) não são todas iguais, pelo que me parece redutor dar um deadline aos pais, quase como se tratasse de um projecto.
Abordar a questão da separação é necessário, mas não é linear. 
Mais do que o "ideal", o "fundamental" é que pais e filhos estejam preparados para dar este passo, para que não existam uma sucessão de avanços e retrocessos que só podem ser prejudiciais (bem mais do que uma saída tardia do quarto dos pais). É preciso que os pais estejam cientes que este passo é necessário, mas também é complicado, porque implica lidar com questões melindrosas (tais como, as do controlo - ou melhor, a falsa sensação dele - e as de separação - que, embora necessária, não é fácil).
Pessoalmente, apesar de reconhecer a importância de saber estar só, acredito que, antes de colocarmos ênfase na independência, há que reconhecer que: 
  • a verdadeira independência surge da completa dependência, da confiança, conquistada aos poucos, que os pais vão estar presentes, que vão saber ouvir, entender, e afastar os nossos receios e fantasmas; 
  • esta confiança nasce do respeito que temos pelos tempos uns dos outros; 
  • as crianças não “usam todas o mesmo relógio” (nesse aspecto, nem os pais).
Dito isto, e depois de reconhecer singularidades, torna-se importante admitir que esta saída do quarto dos pais tende a ser mais “pacífica” quando é feita cedo, e que as saídas “tardias” podem apresentar outros desafios, mais difíceis de contornar, aos pais.

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