No
entanto, esta mudança não é fácil para pais e filhos. Há a questão da
comodidade (para as mães que continuam a amamentar, e cujas crianças continuam
a acordar várias vezes durante a noite), dos medos (dos pais, que se sentem
mais "ao volante" com a criança por perto; e das crianças, que, conforme
se vão dando conta do mundo que as rodeia, também ficam mais cientes da sua
própria fragilidade/dependência).
Obviamente,
num mundo ideal, todas as crianças teriam o seu próprio espaço (é preciso
relembrar que há pais que não podem proporcionar um quarto próprio aos filhos),
estariam a dormir cerca de oito/dez horas seguidas durante a noite entre os
seis e os nove meses, e os pais saberiam contornar os seus próprios receios.
Mas,
as crianças (e os seus pais) não são todas iguais, pelo que me parece redutor
dar um deadline aos pais, quase como se tratasse de um projecto.
Abordar
a questão da separação é necessário, mas não é linear.
Mais
do que o "ideal", o "fundamental" é que pais e filhos
estejam preparados para dar este passo, para que não existam uma sucessão de
avanços e retrocessos que só podem ser prejudiciais (bem mais do que uma saída
tardia do quarto dos pais). É preciso que os pais estejam cientes que este
passo é necessário, mas também é complicado, porque implica lidar com questões
melindrosas (tais como, as do controlo - ou melhor, a falsa sensação dele - e as
de separação - que, embora necessária, não é fácil).
Pessoalmente,
apesar de reconhecer a importância de saber estar só, acredito que, antes de
colocarmos ênfase na independência, há que reconhecer que:
- a verdadeira independência surge da completa dependência, da confiança, conquistada aos poucos, que os pais vão estar presentes, que vão saber ouvir, entender, e afastar os nossos receios e fantasmas;
- esta confiança nasce do respeito que temos pelos tempos uns dos outros;
- as crianças não “usam todas o mesmo relógio” (nesse aspecto, nem os pais).
Dito
isto, e depois de reconhecer singularidades, torna-se importante admitir que
esta saída do quarto dos pais tende a ser mais “pacífica” quando é feita cedo,
e que as saídas “tardias” podem apresentar outros desafios, mais difíceis de
contornar, aos pais.
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