Hoje em dia, na maioria dos lares portugueses, a
televisão está presente e, pessoalmente, acredito, e defendo, o seu
potencial pedagógico. Não estamos, portanto, a falar de utilizar a televisão
como forma de nos demitirmos do nosso papel de pais, mas de utilizá-la a nosso
favor, o que pode ser bicudo.
A Francisca começou a ver televisão aos sete meses.
Não foi algo que tenha planeado. Estávamos na cama, ainda no miminho da manhã,
quando resolvi testar a sua reacção ao canal Panda. Estava a dar a música “Vai
ser um bom dia” das bonecas Polly, e ela começou a rir-se e a dançar. Eu nem
queria acreditar! Como é que era possível uma reacção tão entusiasta e
energética num bebé tão pequeno? Portanto, a partir daí, de vez em quando,
deixava-a assistir televisão, e foi uma descoberta (ver aquilo a que
ela reagia e aquilo a que ela não prestava atenção). No entanto, pouco tempo
depois, recebi o livro “O Grande Livro do Bebé” do pediatra Mário Cordeiro, que
afirmava, peremptoriamente, que “a televisão é nociva aos bebés antes do ano de
idade (...) pelos seus ritmos e pela hiperestimulação que provoca”. O pediatra
continuava, dizendo que o que o bebé “vê são feixes de estímulos sem sentido,
pelo menos na sua maioria, que lhe vão ocupar o cérebro e vão dificultar o
trabalho de triagem cerebral que se faz durante o sono.” E, desde então, passei
a não permitir o seu visionamento pela Francisca, virando-a de costas quando a
televisão estava acessa (afinal, a televisão era nociva para a Francisca, mas os
pais, e os outros membros da família, continuavam a precisar dos seus momentos
de distracção).
Contudo, com o tempo, a minha resolução foi enfraquecendo e, como eu acredito que ser mãe tem muita a ver com seguir a nossa intuição,
passei a permitir que a Francisca visse determinados vídeos. O “Vai ser um bom
dia” voltou, começaram a ver-se alguns programas, e eu fui fazendo uma triagem
do que considerava adequado, ou não.
Esta questão é, portanto, polémica. Por norma, em
crianças pequenas, os pediatras são contra (exemplos: pediatra Mário Cordeiro,
e T. Berry Brazelton – ver “O Grande Livro da Criança, p. 459), mas a maioria
dos pais continua a fazer uso deste aparelho, até porque, sejamos sinceros, trata-se
de uma "baby-sitter" bastante eficaz.
Talvez o segredo seja encontrar algum equilíbrio, o que não é fácil.
Actualmente, as crianças são bombardeadas com novas tecnologias (televisão,
telemóveis, tablets, computadores, consolas...). A Francisca, por exemplo,
sabe, perfeitamente, navegar os iPhones e os iPads dos pais (procura os vídeos
da sua preferência no Youtube, consulta as fotografias e os vídeos, liga e
desliga chamadas, joga alguns jogos, como “Slingshot”, e brinca com algumas
aplicações, como o “Talking Larry”). Estamos, colectivamente, a navegar novos
territórios, com crianças que parecem nascer ensinadas para as novas
tecnologias, mas que, no fundo, são é “esponjas” do mundo que as rodeia, com
uma extraordinária capacidade de adaptação e aprendizagem.
Hoje em dia, no que diz respeito à televisão, a
Francisca vê apenas os dvd’s que os pais acham apropriados (Pocoyo, Uki, Kitty,
XanaTocToc, Carochinha, e Panda). Contudo, gerir a utilização desta e outras tecnologias tem
sido uma ginástica complicada, de forma a que estas sejam actividades que a
Francisca realiza, entre tantas outras, e não as principais.
Equilíbrio e bom-senso – eis a chave (para quase
tudo, de resto)! Comigo foi uma batalha perdida, com o meu marido, pelo que
ouço e vejo, também. Espero, francamente, que consigamos quebrar o “ciclo” com
a nossa piolha.
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