quinta-feira, 8 de março de 2012

As malditas, mas bem-vindas, birras...

Por muito estranho que isto pareça aos pais, as birras são bem-vindas, fazem parte do desenvolvimento da criança. De uma forma geral, estão relacionadas com a sua imaturidade (a criança pequena está, à semelhança de nós, adultos, sujeita à frustração, mas não possui os mesmos recursos que a maioria de nós tem para lidar com ela, pelo que a frustração rapidamente dá lugar à raiva, e, seguidamente, ao desgoverno). Também é importante lembrar que o vocabulário da criança pequena é limitado, pelo que exprimir os seus sentimentos e desejos de forma clara, transparente, torna-se difícil, e que, por volta desta altura (por norma, as birras surgem entre o ano e meio e os dois anos de idade), a criança ainda acredita ser o "centro do mundo", e, como tal, não vai parar para pensar nos seus sentimentos ou necessidades – quer o que quer, e quere-lo imediatamente). 
Não quer isto dizer que as birras não sejam incómodas para os pais, até porque tendem a surgir nas alturas menos convenientes – preferencialmente, em público, onde somos rapidamente julgados como os pais mais incompetentes à face da terra, o que nos deixa, mas não devia deixar, decididos a procurar o canto ou buraco mais próximo para nos escondermos (lembre-se que quem está a reagir de forma desadequada são as pessoas que estão a passar julgamentos, e não o seu filho!). 
Também existem outros factores a considerar: situações indutoras de stresse (adaptação à chegada de um irmão, a uma nova escola, ambientes familiares disfuncionais...); se a criança foi sujeita a excessivos estímulos e se encontra exaltada, ou se sente ignorada, enfadada; factores físicos (sono, fome, doença).  
Seja como for, a melhor forma de lidar com uma birra é respirar fundo, avaliar a situação e, só depois!, reagir. Aqui ficam algumas dicas para aprender a lidar com as malditas, mas bem-vindas, birras: manter a calma, por muito difícil que pareça – os nossos estados de espírito influenciam a criança, positiva ou negativamente; pode parecer duro, mas, por vezes, ignorar uma birra é a melhor forma de lidar com ela – se a criança estiver demasiado excitada, dar-lhe tempo para se acalmar é a melhor solução (também convém não esquecer que as crianças aprendem depressa, e, se perceberem que fazer uma birra é a melhor forma de chamar a sua atenção e conseguirem o que querem, esperam-lhe muitas birras no futuro...); dar colo – por vezes, pode ser uma boa estratégia, uma vez que pode ter o efeito calmante que tanto desejamos (dar colo, não é sinónimo de ceder, é apenas dar a entender à criança que entendemos a sua frustração e estamos presentes para a ajudar a lidar com ela); não tolerar agressões físicas – ser firmes, aqui, é fundamental (a criança tem de perceber que as agressões físicas não são, nem serão, toleráveis); quando a criança se encontrar mais calma (não vale a pena tentar dialogar com a criança a meio de uma birra), fale com ela, tente ensinar-lhe novas formas de expressão, e explique-lhe que aquele  comportamento não possui os ganhos que ela procura. Acima de tudo, tente não perder a cabeça, gritando e esperneando. Nós servimos como exemplos para os nossos filhos e, se nos situarmos no mesmo nível (frustração e raiva), não vamos ajudar a situação, comprometendo comportamentos posteriores, mais adaptativos. 
Para evitá-las, deixo algumas sugestões: sejam consistentes; mantenham-se calmos; procurem evitar situações potencialmente frustrantes para a criança (procurando respeitar, por exemplo, os seus horários); quando sentir que a birra está a caminho, tente distrair a criança com outros brinquedos ou situações; muito mimo, carinho e atenção! – as crianças precisam, e têm o direito, de se sentirem amadas e respeitadas. E, como disse um dia um dos meus mentores (certamente, o mais estimado – Eduardo Sá), “as birras são saudáveis”, preocupante são “as crianças que tratam os pais com delicadeza, porque isso significa que os temem”. 

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