O que
fazer, então, para ajudar a criança que já cá estava, e que agora vai ter de
partilhar o seu espaço (físico e emocional)?
- Em primeiro lugar, não lhe diga que vem aí um mano, e que este, vai ser um óptimo companheiro de brincadeiras! Em vez disso, diga-lhe que vem aí um bebé, e que os bebés choram, comem, e dormem muito! (se puder, possibilite-lhe o contacto com outros bebés, para que este se possa ir apercebendo o que é, afinal, um bebé; se isto não for possível, crie situações de role-playing, leia-lhe livros, ou mostre-lhe fotografias e vídeos - estas fotografias e vídeos podem ser da própria criança, quando era bebé).
- Clarifique que o bebé vai necessitar de muito tempo/atenção dos pais, mas que ele pode ajudar. E este ajudar pode começar já. Não é preciso esperar pelo nascimento para envolver a criança no processo! Quando for fazer uma ecografia, pode levá-lo; quando fizer a mala para a maternidade, pode solicitar a sua ajuda (pode dar-lhe a oportunidade de escolher a primeira roupa do bebé, por exemplo); quando o bebé der um pontapé, deixe-o senti-lo; envolva-o na escolha do nome (esta última sugestão implica que possua mais que uma opção, e que qualquer escolha seja bem-vinda).
- Explique-lhe que, quando o bebé nascer, a mãe e o pai vão passar um tempo fora de casa, mas que já combinaram onde ele vai ficar (se possível, escolha um sítio onde a criança se sinta confortável, e onde já tenha passado algumas noites). Esclareça que esta ausência é temporária, que estarão de volta pouco tempo depois (é melhor não se comprometer com uma data, mas, se a criança insistir, pode dizer-lhe que, em princípio, serão poucos dias).
- Assegure-lhe que vai ser-lhe possível ter contacto com os pais durante este período, seja este telefónico (para lhe explicar o que se está a passar), ou pessoal (visita).
- Quando esta visita acontecer, certifique-se que lhe dá toda a atenção possível.
- Certifique-se que a sua família e amigos também são sensíveis a esta questão, encorajando-os a prestarem uma atenção especial à criança mais velha. A respeito, amiúde, vejo as visitas a irem direito ao bebé e a ignorarem a criança mais velha, que, outrora, era o foco das suas atenções. Ora, o bebé não vai sentir-se relegado para segundo plano se a visita se dirigir primeiro ao irmão mais velho, mas o irmão mais velho certamente sentirá a diferença de tratamento.
- Hoje em dia, está na moda comprar uma prenda da parte do bebé, e vejo quase todos os pediatras a sugeri-lo. Nada contra, embora eu considere que o irmão já seja uma prenda e tanto ;).
- Preferencialmente, não faça coincidir o nascimento com outras mudanças significativas, como mudar de casa, de quarto, ou de cama (alguns pais esperam o bebé nascer para mudar a criança do berço para a cama). Se estas mudanças forem necessárias, faça-as uns meses antes do bebé nascer.
- Quando o bebé for para casa, reserve tempo de qualidade, a dois, ou a três (pai/mãe, ou pai e mãe) com a criança mais velha.
- Envolva-o nas tarefas, deixe-o interagir com o bebé - estas interacções devem ser vigiadas, não sufocadas (os bebés são frágeis, mas não tanto quanto parecem). Festinhas, colinho, e abraços são manifestações bem-vindas (sempre supervisionadas, claro).
- Seja paciente e compreensivo – nem todas as crianças reagem positivamente à chegada de um irmão. Podem existir sentimentos de inveja, rancor, ou mesmo raiva. Caso isto aconteça, tranquilize-o, assegure-lhe que a chegada de um novo membro à família, não significa que o amor dos pais por ele diminuiu, e ajude-o a expressar as suas emoções, verbalizando-as quando ele não for capaz. Respeite o seu tempo para se adaptar a esta enorme, mas bem-vinda, mudança (o que não significa, evidentemente, aceitar comportamentos agressivos).
- Igualmente importante, muitas crianças apresentam comportamentos regressivos (voltam a comportar-se como bebés). Caso isto aconteça, não tente forçar a criança a abandonar os comportamentos em questão, em vez disso, relembre-o das vantagens de ser crescido. Com o tempo, os comportamentos têm tendência a cessar.
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