sexta-feira, 30 de março de 2012

"Lutas de Galos"


Como pais, temos tendência a gabar os feitos dos nossos filhos e, quando isso acontece, geralmente, surgem as comparações.
Ainda no outro dia, quando saímos à rua com a Francisca, vimos uma avó a ficar muita aflita porque a neta, que já era mais velha do que a Francisca, era mais pequena, não articulava tão bem as palavras, e era mais desengonçada a correr (quando o pai contou, como pai babado que é, que ela já sabia os números e as vogais, a senhora ia tendo uma síncope). Igualmente, inúmeras vezes, especialmente quando a Francisca era mais pequena, vimos os pais a olharem desconfiados para os próprios rebentos, perguntando-se como é que existia uma diferença tão marcada (a Francisca sempre se situou no percentil 95/90 nas medidas peso e comprimento, quando não ultrapassava). E nós, inchados de orgulho, mas compreendendo a aflição dos outros pais, lá explicávamos que não existem duas crianças iguais, e que a Francisca não podia ser encarada como a regra porque, de facto, fugia era à norma (percentil 50).
Quase todos os pais têm aquelas conversas, que mais parecem “lutas de galos”, em que listamos os feitos dos nossos filhos, para, logo a seguir, ouvirmos os feitos dos filhos dos outros e, quando damos pelas horas, passámos quase toda a “reunião” a compararmos as proezas das nossas crianças.
O pediatra Mário Cordeiro no livro “O Grande Livro do Bebé” refere: “Todos nós queremos que os nossos filhos dêem nas vistas. No fundo, todos nós gostamos também de dar nas vistas e de ser o centro das atenções... essa faceta narcisista ficou-nos da infância, é inútil negar, e o nosso ego também precisa de ser estimulado.”
Não sei se passa por dar nas vistas, mas certamente estimula o nosso ego. Até porque reforça que estamos a fazer bem o papel mais importante das nossas vidas: sermos pais.
Dito isto, é importante resguardar que as crianças não são todas iguais, desenvolvem-se a ritmos diferentes e que não devemos ficar muito presos/preocupados com aquilo que os livros e os outros pais dizem que já devia ter acontecido. Há que apreciar cada criança individualmente, celebrar as suas conquistas/capacidades, e aceitar as suas particularidades/limitações. Trata-se, no fundo, de aceitarmos que não somos todos iguais e percebermos que, apesar das diferenças, se o nosso(a) filho(a) for saudável e feliz já vencemos ;).

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