quarta-feira, 21 de março de 2012

Infantário e outras opções...


Quando a Francisca fez seis meses, apesar de saber que não era minha intenção colocá-la antes de um ano de idade no infantário, comecei a pesar as minhas opções.
Percebi que, em breve, ela ganharia mobilidade e o meu trabalho de “stay at home mommy” ia ficar mais complicado, compreendi que trabalhar numa dissertação com uma criança e uma casa aos nossos cuidados era empreitada mais trabalhosa do que havia previsto, acima de tudo, pressenti que as suas necessidades de interacção com outras crianças iam aumentar, e que ela necessitaria de estímulos que a opção “continuar em casa com a mãe”, na minha opinião, ia deixar de satisfazer inteiramente. Também devo confessar que comecei a sentir necessidade do meu espaço, aparte do dela, até porque o meu marido trabalha numa consultora e os horários dele sempre foram complicados e imprevisíveis.
Havia chegado a altura de pesar as minhas opções e enfrentar o fantasma da separação... Confesso que não foi nada fácil! A ideia de me separar dela, quando ia continuar em casa, embora estivesse a trabalhar na dissertação (cujos prazos começavam a tornar-se dolorosamente reais), pesava-me na consciência (a maldita culpa), mas, com uma boa dose de diálogo, interno e externo, apercebi-me que seria melhor, para ambas, lidarmos com o inevitável: a separação. Coloquei três hipóteses:
1) Deixá-la aos cuidados da empregada - ainda tentei, mas não conseguia relaxar o suficiente quando estava fora de casa (a pessoa em causa não me inspirava confiança suficiente e, passada uma semana, começou a pedir-me 1h30 de almoço, o que, a longo prazo, ia tornar-se impraticável; ademais, estava a assistir a casos na família, e fora dela, em que a pessoa que estava a tomar conta da criança, pura e simplesmente, mudava de emprego, sem apelo nem agravo, e achei que isso teria consequências desastrosas).
2) Deixá-la aos cuidados de familiares - contudo, os meus pais trabalham e os meus sogros (que são socialmente mais activos do que eu e o meu marido, juntos) não se quiseram comprometer a ficar com ela todos os dias, durante as horas normais de um infantário (das 9h às 17h); ademais, a questão da interacção com outras crianças, e a necessidade de outros estímulos (nomeadamente, aulas de locomoção e de expressão musical com pessoas especializadas), mantinha-se.
3) Ir para um infantário - acabou por ser a opção que me pareceu mais adequada.
Face a esta decisão, arregacei as mangas e fiz uma pesquisa, exaustiva, dos infantários da minha área de residência e arredores. Munida, como a típica “control freak” que sou, do meu questionário, que consistia nas seguintes questões:
- O limite de bebés, por sala, é respeitado?
- Qual é a rotina dos bebés da idade da Francisca, e como é que ela se altera conforme a idade?
- Existe uma auxiliar e uma educadora por sala (ou duas auxiliares, no caso do berçário)? Isto é, o número de funcionários por criança é respeitado?
- O pessoal está sempre a rodar, ou existe a preocupação em manter alguma consistência/estabilidade?
- Habilitações e experiência profissional do pessoal?
- Há uma enfermeira, ou alguém na creche que saiba prestar primeiros socorros, caso seja necessário?
- Os bebés mais crescidos têm acesso à Francisca? Quando e em que situações? Estas interacções são supervisionadas? Se sim, por quem?
- Existem espaços ao ar livre? Se sim, quando é que a Francisca tem acesso aos mesmos e com quem?
- Há uma copa separada para o berçário?
- Outros itens: higiene (chão, sapatos, brinquedos, fraldário e casas de banho, refeitório); iluminação; ruído; segurança; estacionamento; cópia dos regulamentos; projecto educativo.
- Reacção à Francisca (Pararam para falar com ela? Teceram-lhe elogios e deram-lhe miminhos?).
- Reacção aos pais (Sentimo-nos acolhidos, compreendidos, ou despachados?).
- Cuidado e disposição das crianças do infantário em causa.
- Condições de pagamentos e gastos adicionais (mensalidade, prolongamento, e outros custos, tais como fraldas, toalhitas, alimentação).
- Posso visitar a Francisca quando quiser? Tenho liberdade para vir buscá-la na hora que me for mais conveniente?
- Tenho referências da creche em questão (pessoas conhecidas que já lá tenham os bebés e que estejam satisfeitas com os cuidados prestados)?
Depois de muita pesquisa, muitas desilusões, e alguns choques (visitei infantários em que os bebés eram deixados horas seguidas nas espreguiçadeiras, muitas delas eléctricas), lá encontrei uma creche à nossa medida, com a qual continuo encantada. Acabou por ser a qualidade do pessoal e das relações humanas que me conquistou, e não o espaço físico (embora as condições de segurança e higiene sejam religiosamente cumpridas, não possui, por exemplo, espaço exterior). Foi a forma como fomos recebidos e acarinhados que me conquistou, além da organização (afixação da ementa semanal e das actividades semanais, presença de uma rotina fixa para as crianças, possibilidade de fazer uma iniciação gradual, flexível, em que a minha presença, mais do que tolerada, foi bem-vinda). Com o tempo, a preocupação diminuiu, a ansiedade dissipou-se, e, eu fui vendo a minha piolha desabrochar, cada vez mais, na interacção com o pessoal e os amigos, que ela tanto adora. Hoje em dia, pergunta pela escola e pelos amigos quando se ausenta, é uma criança segura de si, confiante, que aprendeu a estar separada dos pais e eu não podia estar mais contente por ter tomado aquela decisão que me foi tão penosa...

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