Embora
este assunto venha a ser debatido ad nauseam, nalguns aspectos, dizer-se que se deu uma
palmada a um filho continua a ser um tabu, e foi exactamente por isso que resolvi
abordá-lo, para que se quebre “the bubble”. Mas, antes de mergulharmos no
tópico, quero apenas frisar que não estou aqui, como já expliquei, para julgar
ninguém, procuro apenas que este seja um espaço de reflexão, e que a possamos
fazer juntos...
Para
o pediatra Paulo Oom (consultar “O Livro dos Pais”), dar uma palmada “é uma
solução possível”, frisando que “não vale a pena pensar que se consegue educar
uma criança até à adolescência sem nunca lhe dar uma palmada.” A verdade é que,
a grande maioria de nós, apanhou uma palmada dos pais e, como
sabemos, tendemos a modelar o comportamento dos nossos pais, embora não
estejamos condenados a fazê-lo.
No
entanto, e embora reconheça que, numa situação de exceção uma palmada possa ter
o efeito desejado (parar o comportamento de forma rápida e eficaz), não posso
deixar de pensar: Se em todos os nossos outros relacionamentos humanos dar uma
palmada não é considerado um comportamento aceitável, porque é que dar uma
palmada nos nossos filhos é? Será que os nossos filhos, por serem nossos filhos,
têm menos direitos, ou é justamente o contrário? Se colocamos tanta ênfase na
tolerância, e tentamos promover comportamentos não agressivos/violentos nas
crianças, porque é que os castigos corporais ainda são toleráveis? Se não
aceitaria que as pessoas que tomam contam do seu filho lhe dessem uma palmada,
porque é que considera aceitável que você o faça?
Acredito,
sinceramente, que, quando damos uma palmada (e sim, infelizmente, em situações
de exceção, já dei uma palmada à minha filha), fazemo-lo motivados pelo medo
(situações de perigo, em que agimos antes de pensar), ou porque estamos
demasiado cansados e stressados para lidar com o comportamento em questão de
forma mais apropriada e construtiva – existem inúmeras formas de educar que não
passam pela palmada.
O pediatra
supramencionado refere ainda que “num estudo recente realizado nos Estados Unidos,
90% dos pais admitiram que já tinham dado uma palmada aos seus filhos em alguma
ocasião. Mais do que isso, quase 60% dos pediatras aprovaram a utilização de
uma palmada nalguns casos.” No entanto, também reforça que “a disciplina é
sempre mais eficaz, se for tomada pela positiva (...), estimulando os
comportamentos desejáveis ao invés de punir os indesejáveis.”
Igualmente,
quando falamos em educação, temos de falar no futuro, e a palmada, enquanto
acção disciplinadora, tem, necessariamente, os dias contados. Educar não deve
ser sinónimo de temer, educar deve ser sinónimo de amar. A palmada pode ser eficaz a cessar um
determinado comportamento, mas não ensina a criança as consequências do mesmo.
Não é possível estarmos sempre presentes, pelo que é essencial que a criança
aprenda, por si própria, com a ajuda dos pais, a diferenciar comportamentos
aceitáveis, desejáveis, e não aceitáveis, ou indesejáveis. É essencial que a
criança aprenda auto-disciplina.
Como
disse, já utilizei a palmada. Crescer implica aprendizagem e aprendizagem, na
maioria das vezes, implica erro. Errei (certamente, vou errar ainda muito mais),
mas, por ter pensado nestes pontos, enquanto mãe, acima de tudo enquanto
educadora, estou decidida a não utilizar novamente a palmada. E vocês? Quero
ouvir a vossa opinião: dar uma palmada é, ou não, um comportamento aceitável,
necessário?
Muito
importante: estivemos aqui a falar de palmadas, e não de espancamentos, ou
outras formas de castigos corporais, que considero, obviamente, totalmente
inaceitáveis e intoleráveis. Também é importante lembrar que uma palmada pode
ter consequências devastadoras. É fundamental lembrarmo-nos que estamos a falar
de crianças, com fragilidades próprias, e equilíbrios precários.
Quando falo em palmadas, estou a referir-me à típica palmada nas mãos ou no
rabo, e não de outras situações, mais graves e potencialmente fatais. Também é fundamental lembrar que "abaixo dos dezoito meses a criança não tem capacidade de relacionar o seu comportamento com a consequente palmada" (Paulo Oom, "O Livro dos Pais").
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